Ontem, nós do Atormente, conversamos muito sobre a peça e eu, que estava apaixonado pelo Barquinho de Papel, comecei a entrar em êxtase. Sinto agora esse barquinho navegando na minha corrente sanguínea. Na volta para casa peguei o meu bloco de notas e comecei a escrever dentro do Interbairros II.
Meu Barquinho de Papel
Havia um tempo em que meu barquinho de papel
navegava nas águas da chuva, junto ao meio fio.
A tampinha de refrigerante era o monstro do mar,
o palito de picolé um tubarão enorme e o barquinho um lindo navio.
Havia um tempo em que meu barquinho de papel
flutuava nas águas calmas da pia do banheiro.
Eu fazia alguns movimentos circulares na água com a mão
e logo surgia um redemoinho sugando meu veleiro pras profundezas de um mar tenebroso.
Era um tempo em que eu enfrentava exércitos inteiros com a minha artilharia de mamonas.
O castelo da princesa era o sobrado em construção do outro lado da rua.
A torre do castelo era o andar de cima do sobrado.
Eu, super-herói, voava através das janelas, aterrizando em montes de areia.
Eu inventava e construía rampas, desafios intermináveis pro meu rolimã.
Subíamos nos telhados, que eram estações espacias e de lá observávamos o planeta Terra.
Meu mundo era assim, um eterno faz de conta, sem limites e sem fronteiras, com as cores da imaginação.
O tempo foi passando e a vida tornando-se mais opaca.
Algumas frases, que eu não conhecia, foram tomando conta da minha vida, como por exemplo:
"Não posso" - "Não consigo" - "Não vai dar".
Hoje, ao me deparar com um barco de papel,
não enxergo mais um veleiro, ou um lindo navio.
Vejo apenas celulose. As construções tornaram-se
tijolos sobrepostos, unidos com cimento água e areia.
Hoje eu vejo que o meu veleiro,
que navegava um mar fantástico,
não fugiu de mim,
mas fui eu quem o mandou embora.
E só depende de mim agora
encontrar novamente meu barco de papel,
meu veleiro, meu transatlântico.
(Pedro Ganesh - 08/02/2009)
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